O Fluminense
Fábio Malta e Fernanda Pizzotti
As notícias do almoço de quinta-feira promovido pelo secretário municipal de Cultura, André Diniz, pré-candidato a prefeito de Niterói pelo PT, não foram bem digeridas pelo deputado estadual Comte Bittencourt, presidente estadual do PPS e também pré-candidato. Comte julgou que os vereadores da sua base “não se portaram bem à mesa” comparecendo ao evento, e outro ingrediente o desagradou mais ainda.
A atitude do grupo de André Diniz foi classificada como “uma bela derrapada ética e moral”, o que fez com que Comte rompesse com o governo e entregasse a presidência da Niterói, Lazer e Turismo (Neltur) e a Secretaria Municipal de Esportes. As direções eram ocupadas por indicados seus, José Mauro Haddad e Dina Feijó, respectivamente.
O prefeito Godofredo Pinto recebeu Comte às 14h, quando foi avisado que os cargos estavam à disposição. Segundo o deputado, Godofredo lamentou a decisão. O prefeito não foi localizado para comentar o caso. Comte não poupou críticas ao que considerou uma antecipação inoportuna das definições eleitorais.
“O episódio foi lamentável. Não sei se os vereadores da minha base foram usados. Entreguei as duas secretarias e estou me retirando do governo. O prefeito tem toda a liberdade no espaço de governança que foi resultado de uma aliança feita nas eleições de 2004, e está completamente liberado desse compromisso. É o gesto de resposta que eu dou ao PT, mesmo tendo a melhor relação pessoal possível com o prefeito”, disse.
A executiva do PPS se reuniu à noite no mesmo dia do almoço. Já é certo que todos os cargos ligados a Comte estão à disposição. Entre eles, as secretarias regionais do Barreto, da Engenhoca, de São Francisco, e cargos nas secretarias de Educação e de Cultura. Comte garantiu que o movimento é dele, e que a sigla está decidindo que posição adotar.
“Quem está saindo do governo em função deste fato desagradável que o PT construiu com os vereadores é o deputado Comte Bittencourt. Setores do PT precisam fazer política com mais respeito e consideração”, bradou.
A pré-candidatura, se ainda não foi descartada, parece ter ficado distante.
“Não estou vendo dentro do meu partido uma unidade em torno da candidatura própria. Eu já vou ter que disputar fora (do partido), e com o ato dos vereadores ontem (quinta-feira), vou ter que disputar dentro? Não estou decidindo que não vou ser candidato ainda, mas confesso que vou aproveitar o período do feriado para repensar prós e contras”, refletiu.
Decisão de entregar os cargos surpreendeu os ocupantes
Comte disse que havia comunicado o rompimento a Haddad, que estava em Cabo Frio, e a Dina, e que os dois deixaram prontamente os cargos à disposição. Porém, ambos mostraram surpresa ao atender a O FLUMINENSE.
“Não vejo a atitude do presidente regional do partido como rompimento, mas como uma posição ética, afim de que o prefeito Godofredo tenha liberdade para decidir o futuro da candidatura do PT e suas alianças”, disse Haddad.
Dina afirmou estar tranqüila:
“Confio na decisão do Comte, que é o nosso líder. Ela será acatada. É uma decisão natural quando se trata de composição de governo. Sairemos de cabeça erguida”, declarou.
Os dois vão concorrer à Câmara, e, pela legislação, teriam que deixar os cargos até 5 de abril. Dois dos três vereadores do PPS que foram ao almoço – Marival Gomes não compareceu, pois estaria gravando material de campanha -, Paulo Bagueira seria recebido por Comte ainda ontem. O presidente da Câmara, José Vicente Filho, negou que tenha falado na possibilidade de adesão de Comte à campanha de André Diniz, durante a reunião.
“Estava lá como convidado, já que o PPS faz parte da base de sustentação do governo”, alegou José Vicente. “É claro que passamos a ter dificuldades de ordem pessoal. Ali tem um misto de desrespeito, de oportunidade indevida”, desabafou Comte sobre o colega de legenda.
Milton Cal, do PP, partido aliado do PPS, disse que chegou no fim do encontro e não sabia que era um ato pró-André Diniz. Seu colega Carlos Magaldi explicou-se pessoalmente a Comte.