Muita gente ainda confunde o Comte – nome próprio – com a abreviatura da palavra “comandante”. Nada a ver. O nosso Comte, que dá nome a uma das principais avenidas de Nova Friburgo – uma das marginais do Rio Bengalas, no centro da cidade – era jornalista e advogado.
Franklin Comte Sobral Marchand Bittencourt estudou no município de Campos, onde foi secretário do jornal Folha do Commercio quando tinha apenas 17 anos. Aos 20, mudou-se para Nova Friburgo para auxiliar um tio na Coletoria Estadual.
Paralelamente, foi nomeado pelo prefeito Silvio Rangel como secretário da Câmara Municipal e da prefeitura. Pouco tempo depois, passou a dirigir o jornal “Cidade de Friburgo”, de orientação pessedista, partido do qual foi uma das figuras mais proeminentes, atuando sempre ao lado de Silvio Rangel.
Este, porém, começou a se ausentar do município cada vez mais e a principal liderança política local passou a ser exercida por Comte quando Silvio Rangel, enfim, se mudou da cidade. Aos poucos, Comte foi se aproximando mais do “Movimento Reação Republicana”, liderado por Nilo Peçanha, que tinha como objetivo contrapor o liberalismo político contra a política das oligarquias estaduais.
Com a derrota de Nilo Peçanha à presidência da República em 1922, Comte passou a se dedicar exclusivamente e com muito afinco aos trabalhadores da cidade e à vida forense.
Como adepto do positivismo, Comte era defensor da liberdade profissional e por este motivo, jamais almejou um diploma de Direito. No entanto, seus conhecimentos e amor ao estudo concorriam para que exercesse a carreira de advogado como qualquer diplomado.
Comte morreu muito cedo, aos 36 anos, e apesar da pouca idade, já exercia uma liderança política cada vez maior no município. Era progressista e atuava como guia e conselheiro de toda a classe operária da cidade, sempre procurando resolver as questões que diziam respeito a estes trabalhadores.
Reservava uma hora de seu dia todos os finais de tarde exclusivamente para atender e aconselhar os representantes de classe da cidade, procurando encaminhar e resolver as questões trabalhistas que lhe eram trazidas, sempre dentro da lei e da ordem.
Certamente se firmou aí o grande prestígio que acumulou entre os trabalhadores. Logo foi tido pelos operários como seu principal líder, pelo modo cavalheiresco e paciente com que eram recebidos e atendidos por Comte.
Pouco a pouco, sua liderança política foi se firmando e alcançou seu auge após a revolução de 30, quando fundou a União dos Operários das Fábricas de Tecidos. Esta entidade funcionava, na prática, como um sindicato, podendo-se dizer que foi o primeiro no município, vindo a se tornar o Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Têxteis de Nova Friburgo.
A morte prematura e repentina de Comte Bittencourt, por apendicite aguda, chocou toda a cidade. Seu corpo foi velado no salão de honra da prefeitura e os jornais da época calcularam que cerca de três mil pessoas acompanharam seu enterro. A banda Euterpe Friburguense executou marchas fúnebres à beira do túmulo, os bailes nos clubes foram adiados e a prefeitura decretou luto oficial por sete dias.
Comte Bittencourt era casado com Maria do Rosario Moraes e deixou sete filhos.
Texto: Dalva Ventura / Fotos: Lúcio Cesar Pereira