Artigo publicado no Jornal O Globo sobre o troca-troca de secretários na Educação do Estado

O governador reeleito Sérgio Cabral acaba de substituir o secretário de Educação, pela terceira vez, durante seu primeiro mandato – desta vez a dois meses do término do calendário do ano letivo. O atual secretário, Wilson Risolia, é o 26 titular desta Pasta num período de 35 anos. Em outras palavras, o Rio de Janeiro tem em média um secretário a cada 17 meses para administrar a educação pública de nosso estado, o que só vem piorando nosso sistema educacional nas últimas décadas.

Esta política do “tira e bota” denuncia uma profunda incompreensão do que seja gerir Educação.Exatamente porque faltam políticas públicas aplicadas à Educação Fundamental e ao Ensino Médio, tarefa principal de uma Secretaria de Educação em nosso país.Neste sentido, a descontinuidade de gestão é mais um forte indício a explicar por que o Estado do Rio de Janeiro encontra-se em penúltimo lugar nos índices do Ideb, ficando à frente apenas do Piauí.Somente este ano, o estado perdeu, em média, 70 professores por mês com exonerações. A categoria afirma que a grande razão dos abandonos são os baixos salários oferecidos.Os professores com formação superior, que representam a maioria dos contratados pelo Estado do Rio, recebem, no início da carreira, R$ 765 de vencimentos. No nível 9, o mais alto da carreira, o salário chega a R$ 1.511,27. Não há um planejamento consolidado para a carreira do professorado no estado.Os concursos públicos não conseguem resolver a demanda de professores para o Ensino Fundamental e o Ensino Médio, principalmente.A motivação profissional da categoria anda em baixa. Fora isso, ainda encontramos as escolas da rede com péssima estrutura física. Entra governo, sai governo, as escolas estaduais continuam sempre precárias.

Este ano, o nível de investimentos em infraestrura nas escolas do estado foi mínimo.

Mais de 50% da nossa rede não têm bibliotecas. E 70% não têm sequer espaço físico para a prática esportiva ou área de lazer com o mínimo de segurança, conforto e dignidade para os alunos.

Cada secretário que chega tenta imprimir concepções que acabam se demonstrando erráticas diante da falta de diagnóstico estratégico para o processo educacional no estado.

Agora temos o secretário Wilson Risolia, que traz como novidade uma concepção de que Educação deve ser gerida como qualquer negócio.

E dá corpo à tese defendendo formas de aferição de eficiência e eficácia com parâmetros empresariais.

Defende suas concepções em cima do controle de aprovação dos bons serviços pelo mérito e diz que usará “benchmarking” como padrão de aferição.

Só resta à população fluminense aguardar e torcer para que o joguinho dos Escravos de Jó seja interrompido e passemos, finalmente, a ter uma efetiva política de Estado para a Educação, que venha a ser régua e compasso dos gestores responsáveis pelo futuro do saber das crianças e dos jovens do Rio de Janeiro.

COMTE BITTENCOURT é deputado estadual pelo PPS e presidente da Comissão de Educação da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro.

 

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