Bullying: desafio para nossas escolas

Quarenta por cento dos alunos da cidade do Rio de Janeiro não comunicam às direções das escolas onde estudam ou a seus pais o bullying (agressão física ou psicológica constante) sofrido dentro dos colégios. Setenta por cento têm receio das reações dos agressores e 20% não acreditam em punição para quem causa esse tipo de violência. Esses dados são do Instituto Informa, apresentados hoje (25/5) pelo sociólogo Fabio Gomes, durante audiência pública realizada pela Comissão de Educação da Alerj, presidida pelo deputado Comte Bittencourt (PPS).  

“A violência nas escolas sempre existiu e cresce cada vez mais, sustentada pela violência da própria sociedade e pela desconstrução da estrutura das escolas, principalmente da rede pública. O assunto deve ser discutido com muita responsabilidade, incentivando o debate com toda a sociedade”, afirmou Comte. “Temos quatro leis estaduais em vigor e mais duas em tramitação aqui na Casa sobre o tema. Mas quem comete a maior violência contras os alunos são os governos, que destroem os projetos pedagógicos e investem pouco em Educação. Temos que ter uma infraestrutura de enfrentamento para esses novos tempos. O debate tem que ser permanente”, complementou Comte, lembrando que além do estado do Rio, apenas Rio Grande do Sul e Santa Catarina têm leis contra o bullying.

O estudo também mostrou que 84,5% dos 830 estudantes entrevistados, entre as idades de 10 e 16 anos, no município do Rio, já foram vítimas (40,4%) ou conhece alguém (44,1%) que sofreu agressões físicas ou psicológicas no ambiente escolar. Soma-se a isso ainda o fato de que cerca de 40% dos alunos não receberem informações sobre bullying na rede de ensino.

A falta de comunicação e os poucos investimentos financeiros em Educação também contribuem para a propagação do bullying nas escolas. O levantamento do Instituto Informa mostra que o problema é mais grave na rede municipal, onde os vitimados chegam a 90,2%, contra 82,8% nas escolas particulares e 72,7% nas estaduais. A mostra constatou, ainda, que em 93,1% dos casos não há nenhum tipo de assistência psicológica às vítimas. Durante a apresentação, o diretor do instituto, Fabio Gomes, lembrou que o bullying foi usado como justificativa por Wellington Menezes de Oliveira para matar 12 estudantes da Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo, no dia 7 de abril. “Não se pode usar o fenômeno para justificar o injustificável, como foi no caso de Realengo. O hábito da violência escolar é antigo. É um problema velho com um nome novo. Só que, hoje, ele está inserido numa geração que busca o imediatismo, que não sabe lidar com os limites e que não sabe o que é um mundo sem globalização. Não sabemos ainda os efeitos disso”, disse Gomes, acrescentando que a pesquisa mostrou que apelidos pejorativos (42,7%), seguido por deboches coletivos (18,8%) e ofensas pessoais (13,7%) são os problemas mais comuns.

Das vítimas, 57,9% não reagiram às agressões, e 19% pensaram em vingança. No entanto, as chances de agressão física são maiores nas escolas municipais: 46%. Nas estaduais, o índice é de 40%, e nas particulares, de 33,9%. Já a comunicação da agressão não é feita por 67% dos entrevistados, por medo de represálias. E um dado positivo: 71% das vítimas de bullying superaram o trauma. Para os representantes da Fundação de Apoio à Escola Técnica (Faetec), por exemplo, a superação do trauma pode estar no diálogo. “Desde 2009, desenvolvemos um projeto em que o tema é levado para dentro das salas de aula, dando a oportunidade ao aluno de apresentar soluções. Também desenvolvemos um projeto para atender os pais. O importante é dialogar, refletir sobre a prática. Não é criminalizando o problema que ele será combatido. A comunicação e o diálogo é que têm nos servido. Ano passado, atendemos 1.170 alunos”, revelou a assistente social da Faetec Adriana Melo, informando não ter ainda dados sobre a redução dos casos de bullying depois da implantação do projeto.

Estiveram presentes na audiência outros deputados, educadores, representantes de sindicatos dos professores e da OAB/Niterói.

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