Estado destina só r$ 0,10 para merenda

Jornal do Brasil
Duilo Victor e Renato Grandelle

“Em muitos casos,consegue-se compensar os poucos nutrientes porque alunos faltam às aulas.

A merenda perde seu papel de incentivo.

Comte Bittencourt”

Para nutricionista, verba é insuficiente para fornecer as 400 calorias, que são obrigação do governo

A merenda, uma das maiores ferramentas contra a evasão escolar, tem recebido cada vez menos dinheiro do governo do Estado nos últimos quatro anos. Não fossem os repasses da União, cada aluno da rede teria menos que R$ 0,32 por dia para a alimentação, quantia congelada desde 2002. A cota do Estado por aluno caiu quase pela metade no período: de R$ 0,19 para R$ 0,10.

Em audiência na Comissão de Educação da Assembléia Legislativa do Rio, a coordenadora de Alimentação Escolar da Secretaria Estadual de Educação, Elizabeth Tavares, informou aos deputados que o dinheiro é suficiente para garantir a merenda. De acordo com a coordenadora, a obrigação do governo do Estado é servir apenas 15% das necessidades calóricas do aluno, o que representa 400 calorias por dia. Os argumentos da coordenadora foram prontamente rebatidos. O presidente da Comissão de Educação, deputado Comte Bittencourt (PPS), denunciou que visitou escolas estaduais em que, no lugar do almoço, é servido lanche por falta de recursos. ­ O Estado, infelizmente, não acompanha esta administração dos preços ­ constata o deputado. ­ Em muitos casos, consegue-se compensar os poucos nutrientes porque muitos alunos faltam às aulas. Com isso, a merenda perde o seu papel de incentivo. Bittencourt explica também que, quanto menores forem as escolas, mais dificuldades terão para negociar com fornecedores a compra dos alimentos: ­ Nas escolas pequenas e médias, a direção tem limitações para fazer o cardápio necessário e conseguir 15% das calorias que o Estado propõe. A secretaria manda apenas um cardápio padrão, que é o mesmo desde 2001.

A nutricionista Regina Corrêa, a pedido do Jornal do Brasil, calculou que R$ 0,32 por aluno é uma quantia impossível de ser suficiente para suprir as 400 calorias de obrigação do Estado. ­ Não sei como uma refeição pode ser realizada apenas com essa quantia. Se tivesse R$ 3,20 já seria razoável ­ estima a nutricionista. ­ Um adolescente de 12 a 16 anos precisa, em média, de 2.500 calorias diárias. A merenda será deficiente se o aluno não conseguir complementar, em sua casa, esta necessidade de nutrientes. Em princípio, o que Estado oferece é pouco. A comissão da Assembléia vai solicitar ao secretário estadual de Educação, Nelson Maculan, o número de inquéritos administrativos abertos sobre denúncias de uso incorreto da verba da merenda.

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